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INQUIETO

"Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Leoa

Compreensão assim, sem fim
pouco se vê na vida
Você e o seu cuidado comigo
me dão abrigo
Assim durmo sem medo
Tudo o que conto pra si
é desprovido de limites
E os seus ouvidos dão chance
aos meus sons
O que me conta
me balança e alavanca
Seu corpo rijo e olhar esperto
tomam o espaço
por concreto
O meio em que nos encontramos
envolve as mensagens que trocamos
e quando passam as nuvens
o seu jeito destoa
Você navega o tempo
e impõe os gestos
com os olhos de Leoa.

Seu sol

 Eu sou 
seu sol
sem som
Sou solo
sedução
Sem sono
e sensação
Sou ser 
se é
no seio
a solução

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Escafandro

Sob um forte calor
frente a boa piscina
tenta não se indispor
e despir-se de si

Com os dedos dos pés
mede o tempo e a brisa
e por tanto, ao revés,
põe seus medos por cima

Já suado e sem cor
pisa forte na beira,
mas de tanto pensar
põe mais fé na traseira

Mas o calor e desejo, 
que lhe comem por dentro,
rompem o seu dissabor
e lhe entregam ao vento

Sente que o seu pudor
pede fim ao seu pranto
e com armas e suor
põe seu corpo pra dentro

 

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A palavra voa

Nas palavras
se arvoram
os pássaros 

arredios

Os que voam
sem se ver,
sem se notar

As letras guardam
mais plumas
que o agora

E o depois
é voo    

É pouso breve
na testa
do que se quer
vento

Eu vejo hoje
e por aí 
que o canto
não mete pudores
aos tantos
desejos
dos remadores

Notícias Suas

Eu preciso ter notícias de você
Saiu assim, sem me procurar.
penso o dia todo em te ver,
está em cada canto do meu lar.

Me avise se chegou bem,
quando conseguir ligar
Seja cuidadoso em suas ruas,
não me deixe sem notícias suas

Quando viermos à nossa conversa,
desejo entender a sua pressa
E seja o que tenha a me dizer,
eu digo que não posso te esquecer

Meus medos sumiram no instante
em que seus dedos tocaram minha fronte.
Agora, sinto cada beijo que não dei,
como espelhos que escondem o horizonte.

Seja cuidadoso em suas ruas,
mas não me deixe sem notícias suas.

3irMãos e Mais

Sem obstáculo,
não trocaria a bota,
E num arremedo,
topava o dedo
e ficava na estrada.

Sendo o piso
sempre firme
e liso,
meus pés não teriam casca,
não teriam viço.

Em cada ladeira em que piso,
por toda subida que passo,
aumento o compasso,
estendo o caminho
e procuro força
na mina
da panturrilha.

Mas se a pedra não ferisse,
se a terra não exigisse,
o corpo seria o mesmo,
sem histórias escritas na pele,
sem lições gravadas no osso.

O trilho que sigo
forja mais que passos,
Ergue pontes
entre os percalços.

É nas curvas,
nas quedas,
que o espírito se alinha
ao destino.

Cada dor,
cada rastro,
marca o chão,
e faz do caminho
a chegada.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Eco

na perfeição 
destacam-se 
os defeitos


de ternos

e alinhados

nos afetos


um traço 

na areia

grita o eco


e o que era

ar

é veia


da ave

sua pluma

ao vento


as flores

perdem suas pétalas 

até as flores

Alto do céu

Vou infernizar com felicidade, e se puder, alguém me trague novos termos e frases, que costuro em versos e fatias, sem vírgulas, sem regalias. Quem não amanhece na praia não viveu a noite, não sentiu a brisa varrendo o cansaço, nem ouviu as ondas apagando pegadas. Não corro, que estou aperreado, mas quem busca a pressa só encontra o desejo.
Mais vale a morte quando se quer vida que a vida quando lhe quer morto. Quem não tem pancinha vive em tempos obscuros, onde a fome se disfarça em moda e o espelho engana os olhos. Meu relógio é uma prisão, um ano de vida por notificação. O tempo não mede passos, não cobra abraços, não pergunta dos beijos que ficaram no meio do caminho. Faço uma plástica nas digitais pra que o mundo me esqueça, ou talvez me aceite. Passe, temos todo o tempo, mas o tempo, este, não se deixa. Esse caranguejo é maroto, não privatiza o pirão, mexe o caldo e camarão, e na maré faz sua terra. Vem me embriagar, dar saravá em formiga, cantar desafinado e rir até ser um zumbi de zóio trocado. Dias comuns são extraordinários, brilham numa pulseirinha de neon, amarram memórias nos pulsos, e, no escuro, iluminam a alegria. Umas partes de mim vão, outras ficam. Em Pipa deixei o encanto, em Jampa parti sem descanso, e voltei pra Recife, "foi a saudade que me trouxe pelo braço". Agora vou ali na curva encontrar o vento. Fui pra ficar uma tarde, não saio dali já faz anos. Nas asas de um carcará, viro areia, faço dunas, me refaço em ondas, e a cada dia sou um novo monte, um novo mote, um outro horizonte. Peço com olhos de sede pelas delícias de uma batatinha que afoga a fome, os desejos, e enche de graça as mãos vazias. E na volta, tem um coquinho geladinho pr’aumentar a pancinha e dar linha ao caminho.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Laço sobre laço

Quando você precisou
Estava sob seus pés
Fui seu caminho e calcei
dos dedos até os anéis

Lhe vi durante seu show
Você quase nem percebeu
Mas quando mais precisou
Fui eu quem lhe deu fé 

Ajustei seu xote
Para garantir que me bote
No passos da sua paixão

Vai, canta alto!
com força no coração
Seu grito me abraça
E força os nós da canção

Em cada um dos seus tons
Eu beijo a sua mão
Laço sobre laço
Lhe passo força
E faço firme os seus sons

Vou apertar mais essa fita
Que lhe desejo infinita

Dou nó dos seus traços
Enrolo os cadarços
Eu me amarro em você

Laço sobre laço
Na chuva e no abraço 
Eu me envolvo em você 

Vou apertar mais essa fita
Que lhe desejo infinita
Laço sobre laço
Lhe passo força
E faço firme os seus sons

Dou nó dos seus traços
Enrolo os cadarços
Eu me amarro em você

Vai, canta alto!
com força no coração
Seu grito me abraça
E força os nós da canção

Vou apertar mais essa fita
Que lhe desejo infinita

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

As vinte e duas

Foi nessa festa à noite
Falando com toda gente
Onde conheci aquele anjo
Onírica seda em pessoa

E dela trouxera a mim
Outras vinte e uma anjas
Que baixaram de Icaraí
Para voar em Pipa
Levaram-me por aí

Irromperam-se em cantoria
Na calçada frente aonde 
Haviam dançado forró
Em frente aos personagens de metal
Alegria a mil e as vozes em sincronia
Gritavam a alegria de estarem reunidas 

Em bela passeada
em terno mar
Navegamos nossos risos
E viajamos nossos sonhos
Amparados pelo samba que fizemos

E este mesmo samba
nos guiava os passos
Nos trançava as pernas
Nos punha embriagados
Com toda a sobriedade

Eu estou com vocês
Quero vestir 23

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Todo dia faz amanhã

Comprei um sol pra te iluminar, 
quando fui pagar, 
não tinha crédito.

Peço e me espera, 
só doze horas
O dia já tenho
E quero passar com você 

Hoje é um passo pro espaço
Desfazer-se e me enlace
Temos tempo e paixão 

A Jaciele perdeu o irmão num acidente
É falar nele e se põe 
Mas tem dois filhos

Jaci, me dê um abraço apertado
Demorado
O que sente é presente
por tempo e cuidado 

Vem ser feliz
Que o dia faz amanhã 

Se houver utilidade pro coco tomado
O nordeste vai tomá-la da mão
Nada melhor que o mar 
pra dar onda às ideias

Ir a todas as praias 
Norte e sul daqui
Para amanhecer na areia
E cavar túneis nos ares

Temos as estrelas
Nossas testemunhas
Todo riso que damos
E o choro que engolimos
Estão registrados
Na luz do tempo
Na brisa e no vento

Chove todo medicamento
Que alivie o nosso peso
Poucos pingos de chuva
E vai-se todo meu medo
Viver é emagrecimento

Tomar banho no abismo
Para nos dar pés
Pisar em solo macio
Sem atolar
Molhar-se no destino
E mergulhar no caminho

A mãe canta um reggae ao seu filho
Ele reage em cochilo
Balança seu berço
Que um anjo caído 
Lhe trouxe pra cá 

Sempre há motivos pra sorrir
Todo dia faz amanhã
Todo riso faz elixir