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INQUIETO

"Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)

domingo, 4 de dezembro de 2022

Petit four

Em todo o tempo,
de todos os dias,
falta acalento

Falta argumento
que nos aplique
temperos nas ideias

Sabores nas conversas

Daí lhe janto as palavras
a cada garfada
nos seus trejeitos

Como seus cílios,
beijo seus segredos
para que a sua loucura
dê prazo ao meu desejo

Estenda o espaço
em que prevejo
caber tudo que virá 
entre tudo

e tudo entre nós

Sinto seus brios
em leves rios
a carregar os prantos
que tivemos

sob os encantos
de quem vive

Para se entregar
à foz
de seus caminhos

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

O que flor será (Sorte em ser-te)

cada amizade é uma folha
cada pessoa, uma árvore
cada paixão é uma estrela
cada coração, universo
cada amor é semente
cada ser, uma sorte

Espinhaço

 De início
já se notava
um indício
do seu jeito

Com o tempo,
o que tem por dentro
aflorou
suas quinas

aquilataram o espaço,
determinaram o passo
e privaram a cabeça
dos seus traços

O que for que faça
tem sua graça
e o seu contrário

Soma ou Suma

 sendo só

         uma

                soma

seu som

é sintoma

           sem

               dor

sai da sua

           sanha

senta-se

            e sinta

cento e sessenta

             tons

    de sabores

Em suma,

            assuma!


AmarOmar

 amar o mar
me faz querer
marejar
mover e mexer
mergulhar
imenso
em
imerso
firmamento
que
disfarça os pensamentos
para me ater
me atar
a ser quem sou
inverso
e avesso à dor

Marcianos

 O seu beijo tem tonto encontro
porque te quero tanto
em qualquer dimensão

Se tivesse dinheiro
deixaria o mundo inteiro
pra lhe dar o espaço

Vamos voar sem freio
que o rumo do meu peito
tem sua direção

Eu sei que sou suspeito
mas vou dar um jeito
pra lhe ter por perto

 Entre em nossa nave
vamos voar suave
e pousar na imensidão

sábado, 20 de agosto de 2022

My place is no place

 Abaixo da escada 
interminável
do café Bricolete
a musa de Camamducaia,
uma moça despojada, 
tanto quanto desastrada
pintada toda de branco,
com cabelos vermelhos
e eu
planejávamos trovoadas
a serem cometidas junto
ao nosso pequeno DOG-GOD
de sete centímetros
que não parava de ser atropelado
infinitamente
ao lado do café da escada
Exatamente todas as vezes
em que alguém abria a porta do café
caiam todas as bicicletas
à sua frente
e a gente
sem tentar parar o mundo
levantava uma magrela junto a outra
Foi nesse instante desconexo
em que conhecemos as duas namoradas
possuidoras de uma das bicicletas
que numa de suas quedas
amassou o já amassado
chicletinho rosa
onde estava escrito
"Juntas para todo o sempre"

domingo, 10 de abril de 2022

aDoraDor

Meu médico
já não receita poesias no escuro
Deixa-me tomar litros
do obscuro
sem dizer onde excretá-lo
No parque onde fazia exorcismos
a grama crescia, virava arbustos
Onde me prendia 
 aos prantos dos moluscos
Os arredores dos meu bichos
tem mais dentes cravejados
que oblíquos
Estacionado seu calço,
nos alpistes.
Os ossos descalcificados das turbinas
impulsionam já, desafetados,
nosso clima
Atravessam em nossos ralos caldos,
de bubuia,
as mensagens atiradas na labuta
Tem dias que se baixa o sol
pelas beiradas
sem dizer às suas folhas
por quais estradas
vão cair ou revirar
a sua alma

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

AMIGO

Sei bem que as amizades se dissolvem, na mesma intensidade em que se firmam. Somos sujeitos distintos, porquanto o tempo nos defina. 

Nosso caminho tem atoleiros, como tem  mata-burros, estende tapete e cria absurdos. Estes degraus estabelecem o impulso ao nosso interesse. 

Sinto ter pisado em falso muitas vezes. Foi a gana de escalar que me fez cair. Querendo mostrar o que não possuía, te fiz rir, de mim.

 Em tempo, ao me pensar além da razão, dei vazão ao que não se quer impedir. O que lhe pedi, faria por ti e, por mim, gostaria de ouvir.

Sei que traço caminhos cruzados, sem sentido ou enviesados. No fim, de tudo o que aprendi contigo, restam abraços de um caldo divertido. 

Posso dar muito mais ao mundo do que me considero, inadvertidamente, capaz.  A idade, a mudança, a alteridade, Aleluia! Sobrepassam o senso irrazoado que nos domina tempo e hora.

Rogo que perdoe meus arroubos, deixe de lado meus instintos. De todo modo, a cada cálculo que fizer, estará somado o balanço do barco ao chocalho da rede. 

Em cada atitude esperada, posso deixar um desejo, dar passo errado e me desculpar.

Pouco sei do caminho traçado, mas fazemos curvas, olhamos pros lados, desenhamos o mundo. Estamos (f)errados! 

Nosso desenho é rabisco, mas o esboço traz previsão. Guardo sempre ao lado, o balanço, o aprendizado, pra ser menos criança e ter no calço, a sua razão.

Mar, sol, calma e emoção!

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Oriente

 Corre na chuva
como quem busca abrigo,
não vê perigo
e escorrega
Volta pra casa logo
cheio do mundo
e vazio no ego
Molha seus planos
feitos por anos,
como papel
Faz novo mapa
onde detalha
sua oposição
Tenta ir longe
nas coordenadas
e encontra erradas
as suas linhas
Não tem caminho 
que planejado 
esteja ao lado
ou contramão
Seu GPS
está quebrado
e toda rua
é uma prisão
Quando desiste
 e anda à solta
é que se encontra
foge à razão

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Arroz quebrado e feijão bandinha

 Eu queria sair
Queria me encontrar
Andar de bar em bar
Pra trombar o desejo

E quando te vi
Sem jeito e lar
Uma causa de existir
Eu senti o seu beijo 

O mundo mostra a mim
Que tem tanto sem jeito
Como eu 
Que me sinto no peito
No apogeu
Procurando entender 
E me entendendo
Um pouco mais

Cada lado que temos
Frente aos lados demais
Viram dados pequenos
E nos trazem paz

Nossos grandes problemas
Tidos, então, atrás
Mostram tortos poemas
Verso e letra a mais

Prezo que o tempo
E o que aprendo
Tornem me capaz
De esquecer o como
Cheguei à soma
Em quanto espaço
Passei através

Volto pra casa
Cheio de certezas
Que amanhã, na mesa
Já deixo pra trás

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Dendrito

 Um feixe
puxa um ramo
e derrama o rumo
por engano
A corda estica
e acorda cores
neste pano
Um corpo,
parado na cama,
pede ao fio,
roga ao ramo,
ora à corda
por um curto
- Despeje as dores
do meu plano