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INQUIETO

"Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

O renomado inominável


Eu te conheço 
Você me conhece
Não te mereço 
E me faz prece

Faço o que faço 
E não me lasco
Pois me sou grato
Lhe ter feito fato

Se pudesse dizer
(E nem digo)
O meu ciúme 
Tem fundo e cume
Pelo qual morro

Pois no desforro
Puxo o meu ser
pra (sem desaforo)
desaparecer

Sem dores
Lhe digo forte:
O que me leva
(À morte)
É ter medo demais

Mais do que isso:
Meu precipício 
É pular da margem
(de tanta coragem)
de todo abismo 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Taturana

Você pode me queimar
Com todo esse fogo 
Eu piso descalço 
E lhe rogo
não lhe piso
E você me preza

Você se esgueira
Em suas patas e beiras
Move todo seu corpo
Para me atacar

Troca sua pele
E sobe no solo
Para que o esforço 
Lhe trace as cores

Pede que lhe toque
Em pilosidade
E sendo que me provoque
Eu lhe cutuco sem glória 

Lhe temo por cego
De ter apego
E prego:
Não me faça ardores!

E quando lhe vejo
Desvio a rota
Pois lhe ter morta 
Pouparia a pupa
sem metamorfose
em bela mariposa

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Sizígia

Eu sou o sol
Vc é a lua
Sou sua força 
E você a minha

Subimos marés 
Voamos as ondas 
E deixam no chão 
Os nossos pés 

Contra a força das águas 
E o seu retorno
Nado sem prancha

Subo em seu salto
Para que num ato
Toque a sua sombra

Puxe meu corpo 
Perto ao seu corpo
E dentro de si
Somamos forças 

Giro ao entorno
Do que lhe torna
E num só gole
Eu me afogo

Em uma linha
Os nossos astros 
Mudam desastres
E forçam os ares
Em novos tratos


quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Como a gente

Pouco importa
Por inteligente
Importa mesmo
Por ser gente

Pensar com os dentes
Tropeçar no caminho
Afundar navios
Sem ter aguardente

Ao mostrar assovios

Em suaves desvios

É que nos afinamos


Sem pensar no peso

Do desleixo

Sem deixar de pensar

Nos seixos

Que de rolados

Já não os queixa


Sem mente

Se inteligente

Há pra tudo

Um jeito

E qualquer sujeito

Tem sua razão 


Importa mesmo

é ser gente

Ter desvios

O queixo nos dentes

Por não ser sujeito

Ao que faz deleite

Do que foi, então 


Não nos deixe

Sem ser mar

Ao peixe

Nem dar cara

Aos tapas

Que afagam

E afogam


Ser inteligente

É ler 

No meio de toda gente

Sem ter nem noção 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Afeito

Tinha uma perna quebrada
e vontade
Você tinha vontade
e requebrava

Um olho no outro
é verdade
Temos desejo
Um suingue que arde

Pego em sua anca,
encosto em seus seios,
um alarde

Eu sei, você sabe
não é tão tarde
Forma o desejo
e damos um beijo

Me aprochego
olho no fundo do leito
Atravesso seu rio
sem nado

Um dedo, dois dedos,
meu corpo inteiro
e, sem ser
covarde
lhe ofereço a boca

No que já é tarde
Cada dor
dobra a idade
dos seus beijos
da sua boca
na minha boca

Em segredo
lhe tenho no peito
Inteira
dentro de um sujeito
sem jeito
imperfeito
e refeito

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Bora

            B   ORA
ORA   ORA   ORA
DEM   ORA   ORO
ÉHO   RAB   ORA
CHO   RAT   ORA
AGO   RAF   ORA

HOR   AAG   ORA
MOR   AAM   ORA
FUR   AAB   OLA
ROL   AMO   RRO
LHE   DEV   ORA

ORA   ORA   ORA
AGO   RAF   ORA
    AGO   RAM   ORRo   


quinta-feira, 24 de abril de 2025

por_onde_houver_chao

Por onde houver chão 
Ando meus passos
Por trilhas desviadas
Piso fofo na areia 
E molho os pés n'água 

Por tamanha imensidão 
Caminho sem pressa
Que os passos são imprecisos
E os percalços fazem moinhos

Deixo o peso após o vento
E as rajadas dão movimento
Ao que se queria inerte

Agora, vôo sem asas
Deixo o cansaço pra trás 
E não lamento as trapaças 
Pelas que corri demais

No calcário dos recifes
Sangro meus dedos
E por deslize
Faço coragem
Dos meus medos

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Leoa

Compreensão assim, sem fim
pouco se vê na vida
Você e o seu cuidado comigo
me dão abrigo
Assim durmo sem medo
Tudo o que conto pra si
é desprovido de limites
E os seus ouvidos dão chance
aos meus sons
O que me conta
me balança e alavanca
Seu corpo rijo e olhar esperto
tomam o espaço
por concreto
O meio em que nos encontramos
envolve as mensagens que trocamos
e quando passam as nuvens
o seu jeito destoa
Você navega o tempo
e impõe os gestos
com os olhos de Leoa.

Seu sol

 Eu sou 
seu sol
sem som
Sou solo
sedução
Sem sono
e sensação
Sou ser 
se é
no seio
a solução

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Escafandro

Sob um forte calor
frente a boa piscina
tenta não se indispor
e despir-se de si

Com os dedos dos pés
mede o tempo e a brisa
e por tanto, ao revés,
põe seus medos por cima

Já suado e sem cor
pisa forte na beira,
mas de tanto pensar
põe mais fé na traseira

Mas o calor e desejo, 
que lhe comem por dentro,
rompem o seu dissabor
e lhe entregam ao vento

Sente que o seu pudor
pede fim ao seu pranto
e com armas e suor
põe seu corpo pra dentro

 

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A palavra voa

Nas palavras
se arvoram
os pássaros 

arredios

Os que voam
sem se ver,
sem se notar

As letras guardam
mais plumas
que o agora

E o depois
é voo    

É pouso breve
na testa
do que se quer
vento

Eu vejo hoje
e por aí 
que o canto
não mete pudores
aos tantos
desejos
dos remadores

Notícias Suas

Eu preciso ter notícias de você
Saiu assim, sem me procurar.
penso o dia todo em te ver,
está em cada canto do meu lar.

Me avise se chegou bem,
quando conseguir ligar
Seja cuidadoso em suas ruas,
não me deixe sem notícias suas

Quando viermos à nossa conversa,
desejo entender a sua pressa
E seja o que tenha a me dizer,
eu digo que não posso te esquecer

Meus medos sumiram no instante
em que seus dedos tocaram minha fronte.
Agora, sinto cada beijo que não dei,
como espelhos que escondem o horizonte.

Seja cuidadoso em suas ruas,
mas não me deixe sem notícias suas.