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INQUIETO

"Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Eco

na perfeição 
destacam-se 
os defeitos


de ternos

e alinhados

nos afetos


um traço 

na areia

grita o eco


e o que era

ar

é veia


da ave

sua pluma

ao vento


as flores

perdem suas pétalas 

até as flores

Alto do céu

Vou infernizar com felicidade, e se puder, alguém me trague novos termos e frases, que costuro em versos e fatias, sem vírgulas, sem regalias. Quem não amanhece na praia não viveu a noite, não sentiu a brisa varrendo o cansaço, nem ouviu as ondas apagando pegadas. Não corro, que estou aperreado, mas quem busca a pressa só encontra o desejo.
Mais vale a morte quando se quer vida que a vida quando lhe quer morto. Quem não tem pancinha vive em tempos obscuros, onde a fome se disfarça em moda e o espelho engana os olhos. Meu relógio é uma prisão, um ano de vida por notificação. O tempo não mede passos, não cobra abraços, não pergunta dos beijos que ficaram no meio do caminho. Faço uma plástica nas digitais pra que o mundo me esqueça, ou talvez me aceite. Passe, temos todo o tempo, mas o tempo, este, não se deixa. Esse caranguejo é maroto, não privatiza o pirão, mexe o caldo e camarão, e na maré faz sua terra. Vem me embriagar, dar saravá em formiga, cantar desafinado e rir até ser um zumbi de zóio trocado. Dias comuns são extraordinários, brilham numa pulseirinha de neon, amarram memórias nos pulsos, e, no escuro, iluminam a alegria. Umas partes de mim vão, outras ficam. Em Pipa deixei o encanto, em Jampa parti sem descanso, e voltei pra Recife, "foi a saudade que me trouxe pelo braço". Agora vou ali na curva encontrar o vento. Fui pra ficar uma tarde, não saio dali já faz anos. Nas asas de um carcará, viro areia, faço dunas, me refaço em ondas, e a cada dia sou um novo monte, um novo mote, um outro horizonte. Peço com olhos de sede pelas delícias de uma batatinha que afoga a fome, os desejos, e enche de graça as mãos vazias. E na volta, tem um coquinho geladinho pr’aumentar a pancinha e dar linha ao caminho.