Vou infernizar com felicidade,
e se puder, alguém me trague
novos termos e frases,
que costuro em versos e fatias,
sem vírgulas, sem regalias.
Quem não amanhece na praia
não viveu a noite,
não sentiu a brisa varrendo o cansaço,
nem ouviu as ondas apagando pegadas.
Não corro, que estou aperreado,
mas quem busca a pressa
só encontra o desejo.
Mais vale a morte quando se quer vida
que a vida quando lhe quer morto.
Quem não tem pancinha
vive em tempos obscuros,
onde a fome se disfarça em moda
e o espelho engana os olhos.
Meu relógio é uma prisão,
um ano de vida por notificação.
O tempo não mede passos,
não cobra abraços,
não pergunta dos beijos
que ficaram no meio do caminho.
Faço uma plástica nas digitais
pra que o mundo me esqueça,
ou talvez me aceite.
Passe, temos todo o tempo,
mas o tempo, este,
não se deixa.
Esse caranguejo é maroto,
não privatiza o pirão,
mexe o caldo e camarão,
e na maré faz sua terra.
Vem me embriagar,
dar saravá em formiga,
cantar desafinado
e rir até ser um zumbi
de zóio trocado.
Dias comuns são extraordinários,
brilham numa pulseirinha de neon,
amarram memórias nos pulsos,
e, no escuro,
iluminam a alegria.
Umas partes de mim vão, outras ficam.
Em Pipa deixei o encanto,
em Jampa parti sem descanso,
e voltei pra Recife,
"foi a saudade que me trouxe pelo braço".
Agora vou ali na curva encontrar o vento.
Fui pra ficar uma tarde,
não saio dali já faz anos.
Nas asas de um carcará,
viro areia,
faço dunas,
me refaço em ondas,
e a cada dia sou um novo monte,
um novo mote,
um outro horizonte.
Peço com olhos de sede
pelas delícias de uma batatinha
que afoga a fome, os desejos,
e enche de graça as mãos vazias.
E na volta,
tem um coquinho geladinho
pr’aumentar a pancinha
e dar linha ao caminho.
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