Páginas

INQUIETO

"Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)
Mostrando postagens com marcador contra-mão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador contra-mão. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Casa de Apostas


Nesta reta final,
as equipas estão muito inconstantes,
os jogadores estão muito inconstantes
e os resultados são imprevisíveis.
Um gajo há de ganhar
qualquer coisa
pra saber o que fazes
Como ganhei de presente
a nuvem que me fez sentar
no banco de azulejos azuis e brancos
do outro lado da calçada,
na frente do coreto,
às margens do rio,
que assistiu passivamente
o escaldar dos nossos
últimos dois anos
As pombas
já quase bicam meus pés
por me pensarem morto,
um alimento inglório,
envenenado
de rancor e suor
E ainda penso nas sardas do seu rosto
que ainda me parecem constelações
de astros que fuzilam
o sentido do meu universo
E acima do Paralelo 38
tudo é receio
Já de volta à sacada
onde passo a maioria dos meus dias
De onde já não vislumbro
o semblante do mosteiro,
fábrica de frígidas,
tomo um cigarro
e o café
Já é outro dia,
já são outros tempos
O tempo tem outro clima
e outro, o mundo que vejo
Sentado
no alto da Rua da Alegria
na esquina da Couraça da Estrela
o frio caminha comigo
faz tremer as frias pernas
da estudante que passa
em seu traje negro
Já é outro sítio
Já é outro tempo

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Cê Mente

O que tens
na mente
é o que te
metem
é o que te
mentem
T'aqui teu
sêmem
T'aqui tua
semente


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Na Terra do SOU

Dizem que sou
isso ou aquilo
aquilo outro
e aquilo mais
Um'outra coisa
coisa nenhuma
e eu, tanto faz!

Coisa que é
ou que não é
não importa mais
Importam os Uis
e não os Ais

Se porta um plus
um algo a mais,
porte-se blues
ou parta um jazz

Nos tons de azul
ou de lilás
teu corpo é cool
é habitat

Dizem que sou
isso ou aquilo
aquilo outro
e aquilo mais
Um'outra coisa
coisa nenhuma
e eu, tanto faz!

Se é rock'n'roll
e quer demais
perde um amor
por outros mais

Pode não ser 
o que deseja
mas tem tesão
e brotoeja

Se é bossa nova
ou se não é
só cabe a si
sambar

Coisa que é
ou que não é
não importa mais
Importam os Uis
e não os Ais

Toca seu groove
com entonação
e há quem ouça
samba canção

Suas artimanhas
só vão saber
os que forem
ao menos hipster

Dizem que sou
isso ou aquilo
aquilo outro
e aquilo mais
Um'outra coisa
coisa nenhuma.
Eu, tanto faz!

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

não ao não


Nenhuma norma anula a Natureza,
enervada em nômades humanos.
O nato entona em defesa
os nomes destinados dos seus manos.

Anunciad'o ânimo e nobreza,
nutre-se o ensino dos enganos,
nega-se o alcance da certeza,
arruinando o plano dos decanos.

A uma única tônica os condena.
Destina o seu sangue à gangrena.
Emana as notas do final.

Reclama os danos d'uma pena
e trama pra tornar eterna
a sua sina em ser vegetal.



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

além

a semente vinga,
devora-se.
Desenvolve
o caule.

Desentranha-se
e envolve-se
na terra.
Desponta.

Soma-se
à conta.
Assombra.

Enfim, emana
antimalthusiana
seu sémen, além.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

entreMentes



Se observar a vida de chofre,
mesmo sob o manto da saúde,
verá, a todo canto, amiúde
a ruína por que, tolo, sofre.

O torpor, há tempos,  lhe aturde
sequioso pela terra do enxofre.
Faz-lhe suplicar por ter um cofre
que tranque o ardor da juventude.

Do nascimento à morte, insidiosa,
há mais de mil versões da glosa
para dar fins ao retrocesso.

A vida é mortificação fantasiosa.
Se não tirar tento desta prosa,
devolva, no guichê, o seu ingresso.

sábado, 1 de dezembro de 2012

+QimperFeito

Sem coragem de dizer,
de assumir vontades,
as mais íntimas
guardadas no seio,
com medo e vergonha.

Por ser tão duro dar,
a quem mais quis,
o que menos queria,
ter de deixar
silentes os gritos.

Oa abraços não dados,
os beijos suprimidos,
os suspiros,
agora, resquícios
do que não fomos.

Após nos reinventar,
tirar-nos defeitos
e nos preparar,
esquecer-nos
sem leito.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Um Céu sem Chão

Tentei pintar o Céu na Parede,
mas esColhi Azul quase Verde
pOR não saber a cOR da IMENSIDÃO.

Tentei beber o Mundo de Sede
deitado, baLançando na Rede
sem ter, sequer, na barriga, um pão.

Ver com os sEus OlhOs lhe imPede
de taTear um Todo que
                                            [cede
a cada pasSO D.A.Do. em Vão.

Querem saber o que se suCede
nUm pluriVerso que não se mede
com a rÉgua derreTida na mão.

O Medo aPARece na prece
e faz com que a vIDA se aPRESSe
POr SERem ignorANTES sem cHÃO.

sábado, 30 de outubro de 2010

PerDOE-me por asSim Ser

Tentando vislumbrar aspectos invisíveis
das mentes que agem dia-a-dia comestíveis,
percebe-se, na gente, muito mais humanidade
do que conseguimos demonstrar com vaidade.

Proponho pôr abaixo as nossas travas
pra reconhecermos, com o uso de palavras,
os princípios proeminentes que nos guiam,
podendo destronar os que entupiam

nossos canais de aparências absortas
que às vezes nos confundem, em contagotas.
Proponho nos abstermos do que se vê!

Pra sermos mais precisos ao que somos,
por mais que às vezes neguem o que fomos,
será mais realístico o nosso SER.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Flores do Concreto


Em meio à toda impossibilidade,
explode um arroubo da idade
a trincar o mais forte cimento
já que há nele água a contento.

Em instante inesperado se ramifica
de uma raiz mais que profícua
galhos esguios entre o bloqueio
para depois o quebrar ao meio.

Em cada escudo há substrato,
o suficiente para que o mato
possa em seu meio florescer.

Em cada esforço ante o trato,
haverá apoio a encher prato
fomento do fruto que virá ser.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Haver avulso

Às vezes vamos ver vitória
na vista vã da glória.
Mas vazam em via ao frenesi
as vinhas da carcinogênese.

Viés turvo de se enviuvar
no vasto vão a se envalvular
prum prover ovulatório à vida
virada às vestes de envaidecida.

Há de haver rastro de verdade
em vil verme da vontade
de vir viver avulso.

Há de haver viabilidade
ante o vento que invade
a verve só versada ao pulso.


*meus versos surgem à madrugada em viajante empreitada de deixar vagar a vida




sábado, 21 de novembro de 2009

tRePiDante

Meu peito, tRePiDante, ainda questiona
a profundeza exata do hematoma
marcado de uma forma destoante
por erro cometido e já distante.

As dúvidas que bloqueiam os batimentos
são caos aos meus nobres sentimentos
nutridos por ti com insistência
em cada estalo dado à consciência.

Espero te rever em meu passado
num sonho delirante, vislumbrado
por te amar em cada hemoglobina.

Impulso para ser condecorado
 o nosso amor ao status de Estado
e tornar-te soberana concubina.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Contradito


Nada é como esperamos.
Ao pedir paz, brigamos.
Ao brigar, reconciliamos.
Ao querer comer, inflamos
e ao chorar, secamos.
Assim que somos, sumimos.
Se quisermos sumir, assumimos.
Ao se limpar, suínos.
Pra não acontecer
é só imaginar.
Se quiser lembrar, esqueço.
O que tem nos pés, cabeça.
O que tem nas mãos, engessa.
Para fugir sem pressa
pare de roer a mesa.
Para almoçar, a sobremesa.
Ao desconstruir, firmeza.
Ao pesar, leveza.
O reencontro é a arte do desencontro.
Para unir, desate.
Para respirar, enfarte.
Para calar, se parta.
Se quiser ficar, reparta.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Mulher de Minutos

Poesia de Monica Montone


Não sou mulher de minutos
Daquelas que os segundos varrem
Para debaixo do tapete sujo

Não pinto os cabelos de fogo
Nem faço tatuagem no umbigo
Me recuso a usar corpetes e cinta-liga

Há sementes em meu ventre
São palavras que ainda não reguei
Prefiro guardá-las em silêncio
Até que o tempo amadureça os meus minutos
E a vida me contemple com seus frutos

Eu não borro os meus cílios na solidão da noite
Nem pinto meu rosto com a palidez das manhãs
Meu corpo é feito de marés
Onde navegam mil anseios
Eles são como veleiros sem direção
Porque eu estou sempre na contra-mão.