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"Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)
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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Casa de Apostas


Nesta reta final,
as equipas estão muito inconstantes,
os jogadores estão muito inconstantes
e os resultados são imprevisíveis.
Um gajo há de ganhar
qualquer coisa
pra saber o que fazes
Como ganhei de presente
a nuvem que me fez sentar
no banco de azulejos azuis e brancos
do outro lado da calçada,
na frente do coreto,
às margens do rio,
que assistiu passivamente
o escaldar dos nossos
últimos dois anos
As pombas
já quase bicam meus pés
por me pensarem morto,
um alimento inglório,
envenenado
de rancor e suor
E ainda penso nas sardas do seu rosto
que ainda me parecem constelações
de astros que fuzilam
o sentido do meu universo
E acima do Paralelo 38
tudo é receio
Já de volta à sacada
onde passo a maioria dos meus dias
De onde já não vislumbro
o semblante do mosteiro,
fábrica de frígidas,
tomo um cigarro
e o café
Já é outro dia,
já são outros tempos
O tempo tem outro clima
e outro, o mundo que vejo
Sentado
no alto da Rua da Alegria
na esquina da Couraça da Estrela
o frio caminha comigo
faz tremer as frias pernas
da estudante que passa
em seu traje negro
Já é outro sítio
Já é outro tempo

domingo, 17 de fevereiro de 2013

aPáLavra

a palavra
repetida
muitas vezes
tem o seu
sentido
suprimido
suprimi
supre

a palavra
tem no seu
sentido
algo
por ter sido
repetiDA
repetIDA
repeTIDA

a palavra
sem ser
dita
teme ter
a sua letra
esquecida
e qu  ci  a
   q    c   a

rePETida
a palavra
su.........
a palavra

a pa lavra
a pa la vra
a p a l a v r a

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

desPaLavrado


As mãos correm
pelo corpo
a tatear
toda a planitude
do lugar.

Sem murmúrios
e assovios
nos ouvidos
me sussurram
estampidos!.

Para a falta de palavras
um silêncio ensurdece
me tapa os dons
e agonizo
sem sinal dos sons.

O frêmito do peito
soa surdo
e despreza o batimento
do absurdo.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Acabamento

Vai acabar. Tudo um dia vai acabar.
Vão dissecar meu corpo sem propósito,
vão confiscar todo e cada depósito
depois que tudo entre nós se acabar.

A solução arrumada é o problema:
se distanciar em hora oportuna
vai depreciar nota a nota a fortuna
guardada em moeda pequena.

Cada esforço ruma à eternidade
vai deslanchar em verdade
que não se pode mais negar

Os sinais de um fim à metade
e este sentimento amargo que invade
nos lembra que tudo vai, um dia, acabar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pretejar

Não levo o peito à cama
pra não me trovejar o coração.
No instante em que se inflama,
traz de volta ao mundo
                                              [solidão

Tremendos rodopios planam
nas voltas fervorosas do meu
                                                  [vão
Escuto os termos tímidos
das turbas tolerantes de então.

Esqueço-me do terço entoado
de um crente já desacreditado
por ter nos sentimentos 
                                             [a razão

Permito aos prantos parcos
verterem-se em mil cacos
pra darem, enfim, à Luz
                                              [Escuridão.