Poesia e foto de Juliana Biscalquin
"Saúdo a todos, com ares de festa, com vinho de pupunha, com beijú e kiampira e um peixe bem muquiado. Envio meus sinais de fumaça de que retornei e quase intacta. Grata aos que vibraram. Entre piolhos já exterminados, queimaduras negligentemente cuidadas, picadas de origem anfibológica, vômitos e diarréias (sobre os quais seria dificil poetizar) sobrou ainda mais disposição para descobrir mundos novos, dentro e fora de mim. Katehe naka. Katehe xita. Estou de volta! Com os mesmos 20 e poucos anos e a bagagem um pouco mais pesada. "
São mais de cinco os mercenários, donos da cidadela
E mais de três os bêbados cristãos ordenados
Mais de nove os políticos endinheirados
São quarenta mil cento e trinta e sete¹ os explorados
São vinte e três as etnias
Imensuráveis as riquezas linguísticas
Que nas bocas opacas e oprimidas
Se convertem em palavras mínguas
O caos urbano
de um desregrado crescimento
Faz a ‘Bela’² continuar dormindo
De tanto acanhamento
Fome, dor, suicídio
Perspectiva, subjulgamento, omissão
51 é pra dar sentido
Ao que esfarinhou o coração
(O)Brigada Infantaria de Selva
Que à fronteira traz proteção
Pelo suor, pelo trabalho,
Colômbia!
Pelas promessas e prostituição
A mais indígena das cidades brasileiras
Tem Maria, tem Joana e Edivanson
São tukanos, barés, banivas-
-“Me chamo Cacique Henrique de Almeida³”
O xibé e o tabaco
Adiam o ronco do estômago, dolorido
Indigesta realidade manauara
Na minha barriga de branca bem alimentada
Observações:
¹ IBGE 2007
²"Bela Adormecida" - De São Gabriel da Cachoeira, avista-se a Serra de Curicuriari. Foi apelidada com o nome da fábula infantil por suas formas parecerem a de uma mulher deitada e dormindo.
³ Nomes reais, assim como os personagens do primeiro verso.