Do caos
à paz
Da turba
ao isolamento
Dá hora
ao tempo
De mim
para ti
todo o meu vento
A vida é uma reticência e ponto
Cheia de final sem recomeço
Plena de começos sem fim
A vida são vidas feitas
Sólidas ou rarefeitas
Não permanecem ou passam
Em cada trampolim
Pulamos
Sem saber o pranto
Temos todos fatos
Em nossa fuça
Mas não há recusa
O que sabemos
Tão pouco vemos
Nos direciona
E nesse fim
Há destino
Ou novo fio
Jogo-lhe tijolo
na testa
Por uma finestra
Por todo seu caminho
Tem um carimbo no seio
Bem no meio
O que lhe faz assim
Sendo você, sem mim
São as veias
Um movimento
Carrega seu trilho
Sem desancar
Na correria
Perde seu Lar
E as paredes
Meu tijolo,
Agressão que seria
Constrói!
O seu rumo dói
Destrói
E desfaz
Só o tempo sabe o quanto estamos passados
Nem o vento
Nem a chuva
Têm a mais puta ideia do quanto vivemos
A palavra proferida aos ares
Contém mais que seus significados
Carregam a vida
Vivida e renunciada
Nossas rugas e cicatrizes dizem tanto
Dos caminhos
Dos atalhos
Procurados na ânsia de nos encontrarmos
Uma frase tem espaços entre as letras
As lacunas do intentado
Onde moram pretensões
Por aventura aos nossos lados
Não há um só código
Não há um só dado
Há mais entre o silêncio e a fala
Que pensa nosso antepassado
Já não tenho casa
Ou nunca tive conforto
Não pertenço a lugares
Mas a sentimentos
Que mudam a cada instante
Portanto moro em apartamentos
Em condomínio de emoções
Das minhas próprias emoções
Cheio de elevadores e escadas
Esse edifício pega fogo a todo instante
Há sempre um incêndio
E preciso correr de mim mesmo
Pra lugar algum
A única saída plausível
É a janela
Mas que acaba me fazendo ver
Ter mais belezas aqui dentro
Que suposto nos olhos alheios
Portanto fico
E queimo
O fogo arde e cura
Se desaba um andar da minha brasa
Já tenho um novo lar para viver
Ei fio, liga na tomada
Acende o pavio na tensão
Chamusca maçarico no cabelo
e vamo incendiar toda nação
Tem toda energia neste solo
Carregada desejosa e sem razão
Então pulemos juntos nesta dança
não importa qual coloração
A corda foi cortada p/ confete
Algemas vão virar celebração
pois se abrirem, é comício ou zoação
Tire a sua blusa e se junte
aqui o que não falta é divisa
à desmaiar metade e a outra pisa.
Tenho palavras tortas atrás da porta
Eu bato
Caso tu não te importas
Abra
Cadabra
Uma palavra é agulha com linha enfiada
Me tece um fio
E enrascadas
Sê o penhasco de que me lanço
Com amor ou ranço
O que mais se pode querer
É conhecimento
Atado à tesura
Não me penitencia
Pelo desespero
ou silêncio
São resumos do descontentamento
Expressão do tempo
Penso que tanto movimento
Cause ranhuras
Umas fresas na sua postura
Ou espanto
Estamos na praça
Tem tanto vento
Tão pouco banco
Procuro um assento
E ao te ver
Quero tanto uma prosa
Quase uma briga
Uma rinha
Do meu jeito maluco
Imprudente
De fazer desencanto
Eu percebo
Que percebes
Ja não temos traquejo
Temos ataques
Travamos a luta
E neste tamanho
Brinda comigo
Num amargo
Cálice de cicuta
Vamos
tentar ser felizes enquanto estamos vivos
Porque
a tristeza é uma garantia
E não
vai mudar se não se fizer nada a todo momento
Com o
dinheiro que se puder colocar fogo para se alterar o ambiente
E o
esquecimento do que uma mente já prejudicada possa se beneficiar
E ao
navegar a favor
Engrossa
a correnteza
Do que
garante ao mundo
O
permanente estado de tristeza
E
tensão contrária por alguma felicidade
Acender
um cigarro no fogão
E
mergulhar em águas turbulentas
Afogar-se
Penso
em estar presente
Decidindo
que o Rio Mondego precisa de mim
E o
Tejo pode me aguentar
Não quero lápis,
nem borracha,
posto o que escrevo
tem tanto relevo
quanto o tempo.
Não apago meus erros
por serem lampejos
de novas constelações.
Há um outro Universo
a cada caminho tomado ao avesso
pelo tamanho do seu interesse
Por que às vezes,
quando não se quer nada,
é que se consegue algo!